Poderíamos...
Poderíamos casar. Não chegaríamos sequer perto do exemplo de família perfeita. Teríamos um apartamento, quem sabe uma casa com jardim e um cão com pêlo brilhante. Improvável. Tomaríamos café às cinco da tarde. Você reclamaria o fato de eu ligar o chuveiro horas antes de ir para o banho. Eu, por você ter arranhado meu CD de jogo favorito. Eu não admitiria o quanto você fica bonito quando bravo e você não diria que lembra da cor do sapato que eu usei quando nos vimos pela primeira vez. Discordaríamos quanto à cor das cortinas. Não arrumaríamos a cama diariamente, tomaríamos chá e comeríamos torradas. A geladeira seria repleta de congelados e refrigerantes, o armário, de porcarias. Adiaríamos o despertador umas trinta e duas vezes só para ficarmos horas na cama enrolando e falando qualquer besteira. Sentaríamos na sala de pijama e pantufas, você iria direto para a geladeira pegar uma água para tomar. Você saberia o nome do meu perfume, eu saberia onde você largou a última edição da revista de fotografia. Sairíamos pra jantar em algum dia de chuva e não nos importaríamos em chegarmos encharcados. Dormiríamos com o computador ligado. Nos beijaríamos no meio de alguma frase. Você pegaria no sono com a minha mão no seu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria sem motivo e você perguntaria por que, eu não responderia. Saberíamos. Poderíamos casar.
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